Sempre que abro o LinkedIn sou bombardeado com mensagens de produtividade e relatos de gente que ficou até mais tarde ou trabalha sem parar até mesmo finais de semana.

A sensação que eu tenho é que está todo mundo no meio de uma corrida e ninguém pode parar.

O normal quando nos vemos imersos nesse tipo de conteúdo é achar que não estamos nos esforçando o bastante, precisamos nos dedicar cada vez mais.

Há momentos que esse pico de incentivo pode ser interessante, mas nem sempre. Existe um efeito colateral comum, que é fazer pessoas que não precisam deste estimulo e nem sofrem uma cobrança externa – vinda da empresa ou gestores – começarem a sentir que não fazem o suficiente.

Esse ciclo de autocobrança cria um gatilho perigoso, por achar que não nos dedicamos o bastante, começamos a nos torturar para sentir que damos tudo o que precisamos. Muitas vezes tudo isso de forma inconsciente.

Existem alguns sinais que denunciam esse comportamento que acaba se tornando quase obsessivo, e identificá-los nos permite refletir se o que estamos fazendo é necessário ou estamos apenas nos punindo para sentir que não estamos ficando para trás na corrida da produtividade.

Sair tarde todos os dias

Vez ou outra todos vamos acabar saindo tarde. Existem trabalhos que atrasam e mudanças emergenciais que precisam ser feitas.

Este não é o foco do problema.

No entanto, é preciso observar quando sair tarde tornou-se um novo hábito. Mais ainda, que esse hábito seja apenas uma vontade particular, como disse acima, sem pressão de algum superior para entregar algum trabalho.

As desculpas para esse tipo de comportamento costumam ser:

  • “Preciso só terminar mais uma coisinha” – inventando alguma atividade para fazer que não tem prazo ou urgência
  • “Estou adiantando algumas coisas para amanhã” – mesmo que não exista nenhuma razão particular para adiantar esse serviço fora do horário normal
  • “Estou só dando uma ajudinha para o fulano” – normalmente em uma atividade que não era necessária a ajuda e insistiu para poder ajudar
  • “Só estou respondendo alguns emails” – mesmo que não tenham urgência de ser respondido nesse horário

Estes, entre outros argumentos, só denunciam que existe uma vontade de “estar trabalhando” sem existir a verdadeira necessidade de tamanho desgaste.

Sempre quer falar sobre trabalho

Outro sinal de que estamos nos torturando com trabalho é a busca por trazer o assunto para a mesa de conversa, seja em momentos de lazer com pessoas que trabalham com você ou com pessoas de outros círculos diferentes.

Hoje em dia, com os grupos de Whatapp das empresas é ainda mais fácil que esse comportamento se manifeste.

Aquela pergunta sem nenhuma necessidade e urgência feita tarde da noite no grupo, aquela conversa no final de semana para saber algo que não vai fazer diferença naquele momento, entre outros tipos de artifícios utilizados para seguir sempre focado no que poderia estar produzindo sem conseguir relaxar.

Não consegue se divertir

Muita gente nessa situação perde a capacidade de se divertir, aproveitar atividades que não estejam relacionadas ao trabalho ou a vida produtiva. Sabe quando a pessoa já desistiu de assistir filmes ou séries, porque sempre acaba perdendo o foco quando pega o celular?

Alguém que sai com os amigos mas não abre mão do telefone, revisando emails ou levantando conversas sobre trabalho no WhatsApp?

É claro que fora do trabalho temos que dedicar certo tempo para nosso desenvolvimento profissional, acompanhar livros e artigos interessantes. Mas quando abandonamos por completo a capacidade nos desligar do trabalho e curtir o tempo livre, é um alerta vermelho de que estamos entrando numa zona bem perigosa.

Por mais que individualmente, e feito vez ou outra, nenhuma dessas atividades seja prejudicial, quando encontramos a combinação de afundar-se no trabalho sem necessidade, levar a temática trabalho para os outros ambientes da vida e não conseguimos mais relaxar no tempo livre, é certo que estamos traçando um caminho ruim.

Essa autocobrança exagerada, junto ao estresse e cansaço que estes comportamentos acabam gerando tendem a esgotar o profissional, gerando um ciclo de cobrança, dedicação extrema e estresse.

No fim, nada do que foi feito era totalmente necessário, mas estamos sempre muito estressados, cansados e sentindo que deveríamos ter nos dedicado mais.

É importante saber reconhecer quando estamos usando o trabalho para nos punir e criando danos para nossa saúde mental, no fim prejudicando o que seria nossa produtividade real.