Nos últimos anos o mantra do propósito na vida profissional tem se difundido bastante.

É comum dizer que você precisa ter um propósito, seja ele mudar uma área específica ou contribuir para o mundo.

Esse mantra presente em livros de autoajuda e palestras motivacionais faz cada vez mais pessoas olharem para a própria rotina e pensar:

Será que estou alcançando meu propósito?

Quando paramos para observar, parece fazer sentido.

Temos um tempo limitado de vida e precisamos alcançar tudo o que queremos nesse curto espaço de tempo.

Mas como funciona esse propósito e, ele deve mesmo vir da nossa busca profissional?

Não existe resposta fácil

Cada pessoa está num momento da vida e tem necessidades diferentes.

Quando um filho nasce, por mais que nossos objetivos pessoais ainda existam, o propósito tende a mudar de direção. Garantir que a criança se desenvolva bem assistida torna-se o propósito de muitos pais.

Tem gente que cresceu pintando, compondo músicas ou praticando esportes e carrega nisso seu grande propósito de vida. No entanto, são atividades difíceis de extrair sustento o suficiente para levar uma vida confortável. Ter um trabalho comum, mas que permita seguir levando seu propósito real acaba sendo a solução.

Nem sempre nossa atividade profissional é o que temos como objetivo maior.

Não é crime amar outra atividade

A vida é repleta de atividades, pessoas e caminhos. Encontrar sua motivação principal no trabalho, na atividade que gasta grande parte do seu dia, é o sonho de muita gente, mas infelizmente não é possível para todo mundo.

Um vendedor que é apaixonado por sua banda de Rock e que gasta todo seu tempo livre estudando e ensaiando, não está fazendo nada de errado. Pelo contrário, é lindo que mesmo com uma rotina profissional desgastante seja possível manter suas paixões vivas.

O mais comum, com a chegada da vida adulta, é que nossa paixão se dissolva num mar de responsabilidades.

Tudo isso não significa que uma pessoa que tem inclinações paralelas será relapsa com seu trabalho ou mesmo um profissional ruim. É possível assumir responsabilidades e cumprir compromissos enquanto nutrimos um outro propósito.

Dinheiro é uma necessidade real

Há quem diga que, para ser feliz, as pessoas que não enxergam em suas profissões o seu grande propósito de vida, deveriam mudar de trabalho.

Fácil seria se fosse simples assim.

A maior parte das atividades que normalmente funcionam como propósitos fora da vida profissional costumam ser pouco lucrativas. Muitas vezes sendo quase impossível extrair algum retorno financeiro.

Exigir que alguém abandone o emprego que paga suas contas para se arriscar pintando quadros é no mínimo injusto.

Responsabilidade e paixão

O segredo de todo esse impasse está em compreender que todos temos nossas responsabilidades e que podemos desempenhar um excelente papel mesmo não transformando nossas carreiras em obsessões.

Existem, por exemplo, juízes, médicos e cientistas com trajetórias de brilhar os olhos, mas suas reais paixões são suas motos, os treinos de jiu-jítsu ou sua coleção de bonsai.

As responsabilidades são um meio para viabilizar tudo o que mais gosta.

Não podemos incentivar essa ideia de que é errado buscar outros interesses fora da vida profissional. Caso contrário, a vida no trabalho teria apenas pessoas monocromáticas e sem profundidade, todas disputando os exatos mesmos lugares.

Você não precisa depositar seu propósito nas atividades que executa dentro do escritório, tudo o que precisa é garantir que, seja  lá o que estiver fazendo, dedique-se de coração.