Pode existir alguma diferença básica entre uma empresa e outra, mas no geral boa parte do cotidiano acaba sendo parecido.

Você entra sem conhecer muita gente, cria identificação com algumas pessoas e, quando se da conta, almoça junto, discute os assuntos que apareceram no fantástico e até mesmo acaba se encontrando fora do ambiente de trabalho. Por mais que com alguns anos você entenda que ao sair da empresa essa amizade pode desaparecer, enquanto convivem no mesmo espaço ela é real e até mesmo necessária.

Por mais que o conceito não esteja claro na maioria das vezes, toda empresa é uma pequena comunidade. Por isso a questão acaba indo além da ideia de existir ou não comunidade, mas criar um direcionamento positivo para a cultura que já existe.

Por que uma cultura de comunidade?

Este é um princípio que vem sendo levantado faz tempo por grandes marcas do mercado. Ao invés de tratar o ambiente de trabalho como um lugar onde as pessoas vão apenas realizar o trabalho que são delegadas para fazer, uma comunidade permite que cada profissional sinta-se protagonista dos seus resultados.

A grande líder criativa Pixar nos traz uma boa dica do que esperar de uma boa comunidade e o quê este modelo pode trazer. Num artigo publicado em 2008 pela Harvard Business Review encontramos um instigante paragrafo:

A Pixar é uma comunidade no verdadeiro sentido da palavra. Nós achamos que relações duradouras importam, e compartilhamos algumas crenças básicas: Talentos são raros. O trabalho de gerência não é prevenir riscos, mas criar a capacidade de recuperar quando falhas acontecem. Devemos ter segurança para falar a verdade. Devemos sempre desafiar nossas certezas e procurar por falhas que podem destruir nossa cultura.

Em outro trecho vemos os resultados:

Se fizermos tudo certo, o resultado é uma comunidade vibrante onde pessoas talentosas são leais umas às outras e ao seu trabalho coletivo. Todos sentem que são parte de algo extraordinário, e sua suas paixões e conquistas transformam a comunidade num grande imã de pessoas talentosas vindo das escolas ou de outras empresas.

Passo 1: trabalhe com transparência

Confiança é um dos primeiros passos para que uma comunidade se estabeleça de forma saudável. Só somos capazes de compartilhar nossas experiências e frustrações quando sentimos que não estão escondendo nada de nós.

Saber o que se passa dentro da empresa e deixar todo mundo ciente de movimentos estratégicos é importante para que ninguém sinta que ficou de fora. Alguns cases de transparência são bem avançados, mas muito bonitos de acompanhar.

A Buffer, conhecida pela sua plataforma de gestão de redes sociais, tem um dos mais interessantes casos de transparência do mercado. A empresa possui uma landing page completamente dedicada ao detalhamento de atividades custos, faturamentos e salários.

Gestão de vendas

Todas as informações da empresa estão publicamente disponíveis.

Num exemplo menos extremo dessa aplicação, aqui no Moskit realizamos reuniões mensais onde todos os funcionários participam, do CEO aos estagiários, acompanhando a apresentação de resultado de cada uma das equipes, informações de faturamentos e outras decisões que em muitas empresas são discutidas apenas em nível gerencial.

É unanimidade na empresa que o conhecimento de todos esses números colabora para a qualidade do ambiente do trabalho e para a confiança que todos depositam na empresa. Todos sentem que são parte do negócio.

Passo 2: remova ruídos da comunicação

Num ambiente onde o objetivo é amplificar os resultados através da autonomia de cada um, remover os ruídos de comunicação e formalidades desnecessárias é um grande passo.

A comunicação mais formal, sempre utilizada em empresas mais tradicionais, é responsável por criar o distanciamento entre a alta gestão e os funcionários de base. No passado este modelo parecia fazer sentido e era encorajado, mas quando estamos falando de uma comunidade baseada na confiança é importante que essa hierarquia seja mais horizontalizada – na medida do possível – e que o diálogo aconteça de forma mais aberta.

Com a remoção dos artifícios e eufemismos da linguagem formal, podemos transmitir ideias com mais clareza e fazer com que todos entendam a mensagem de forma mais direta. Sentimos que estamos conversando entre iguais.

Passo 3: reconheça e respeite diferenças

Assim como em comunidades que surgem de forma orgânica na sociedade, empresas não possuem forma de controlar totalmente o perfil dos novos funcionários. Cada pessoa, por mais talentosa que seja, tem uma forma de interagir e participar do grupo.

Alguns grupos podem gostar de fazer happy hour. enquanto outros preferem se juntar para comer na casa de alguém. Respeitar estes limites e promover diversos modelos de interação para que pessoas com gostos diferentes também sintam-se parte da comunidade evita exclusões e promove a diversidade de ideias no grupo.

Passo 4: tenha uma plataforma centralizada de comunicação

Um dos elementos que mais tem sido utilizados para ampliar a cultura de comunidade dentro de empresas são as ferramentas internas de comunicação. Não apenas um chat onde colaboradores podem conversar sobre trabalho, mas uma extensa rede repleta de canais temáticos que tragam identificação e incentivem uma comunicação mais informal.

Ferramentas de comunicação de times como o Google Chat ou o Slack são excelentes plataformas para enriquecer a interação entre os funcionários. Dentro das plataformas, devem existir não apenas os tradicionais grupos dos times de trabalho, como também grupos com temáticas casuais.

No Moskit utilizamos grupos para falar de almoços, trocar notícias, falar de música, organizar noitadas de counter-strike e até um grupo com o Raking das nossas partidas de totó, atividade que fortalece bastante a cultura da nossa comunidade.

Passo 5: compartilhe o que for possível

Criar um ambiente propício para troca de experiências para que as pessoas sejam capazes de ensinar os temas que estão envolvidas é a cereja do bolo no desenvolvimento de uma comunidade.

Quando todos compartilham suas histórias e seus passados a conexão entre o grupo acaba acontecendo de forma espontânea. Dessa forma podemos saber as dificuldades, os momentos ruins da trajetória e grandes conquistas, valorizando ainda mais o que cada um tem de experiência individual.

Mais ainda, quando podemos transmitir o que sabemos, sentimos que temos uma utilidade ainda maior para a comunidade, criando um ambiente onde um ajuda no crescimento do outro.

Ainda usando o Moskit como exemplo, temos um dia do mês dedicado à apresentações individuais que podem abordar qualquer assunto, desde contar a própria história, até palestras sobre temas técnicos bem específicos. O importante é incentivar que exista a troca entre as pessoas e que todos possam crescer juntos. 

Comunidades estão longe de serem perfeitas, e conflitos vão surgir em algum momento. Visões diferentes sempre vão trazer algum impasse, mas uma comunidade saudável deve tentar agir sempre visando o crescimento do grupo e buscar alcançar um consenso do que for melhor para todos.

As dicas desse texto são as direções que vejo funcionando diariamente, e que tem feito a empresa onde trabalho um lugar cada vez mais interessante de trabalhar. Uma boa métrica para esse resultado é como funcionários antigos acabam voltando para trabalhar conosco, reafirmando sempre que o ambiente de trabalho e a cultura que estamos desenvolvendo proporcionam um clima único para a empresa.