Trabalhei grande parte da minha vida com gestores ruins.

É estranho falar assim do meu passado, mas essa informação é importante para entender do que estamos falando aqui.

A maior parte dos gestores não estudou o suficiente para assumir a posição que ocupa, simplesmente foram subindo como profissionais até o momento em que a oportunidade surgiu. Estes gestores, de forma geral, tendem a coordenar equipes através da intuição, agindo como acham que é melhor tanto para própria carreira, quanto para manter seu time produtivo.

Mas gestão não é algo que se aprende de um dia para o outro, é necessário uma boa bagagem de estudo e experiência para não dar um tiro pela culatra.

É aqui que as coisas começam a escorregar.

Comportamentos comuns em gestores amadores acabam sendo proliferados por crenças populares. E pela dificuldade em ferir a hierarquia e apontar as falhas do superior, erros grosseiros seguem sendo repetidos até que não exista mais remédio, qualquer motivação possível já foi apagada do time.

Em bons anos de mercado acumulei um certo faro para atitudes negligentes e que acabam matando o espírito de um time. Abaixo comento os três comportamentos mais prejudiciais que encontrei nos últimos 15 anos.

Transferência de responsabilidade

O trabalho está indo bem, a equipe está entrosada e desenvolvendo bem suas metas.

Numa bela tarde de quinta-feira, João comete um pequeno deslize e perde um grande negócio. A presidência da empresa quer saber o que aconteceu, existia muita expectativa naquela conta.

Ao ser chamado para uma reunião, o gestor só pensava num objetivo: tirar o dele da reta.

Na hora de explicar o que aconteceu, a figura do líder se esquivou da responsabilidade e entregou a cabeça do João na bandeja, sem pestanejar.

Um dos principais papéis de um líder é proteger sua equipe, segurar as pedras que vem de cima garantindo que não prejudique ainda mais o andamento do trabalho. É muito difícil para pessoas com um perfil mais egoísta entender isso, mas o responsável pelos erros da equipe é o gestor.

Gestão de vendas

Transferir as responsabilidades diretamente para os membros do time não apenas torna as punições desproporcionais, como tira a liberdade para arriscar abordagens diferenciadas, matando boas atitudes pela raiz.

Não transferir os méritos

Dessa vez João não errou, pelo contrário, identificou uma abertura durante uma negociação e emplacou um contrato enorme, maior do que imaginavam. Agora a presidência quer saber mais sobre o resultado e parabenizar a equipe pelo sucesso.

Nosso gestor, sem pensar duas vezes, assume os méritos da negociação sem mencionar João, o verdadeiro responsável por tudo.

Pelos corredores todos comentam o incrível resultado do gestor, sem jamais mencionarem os créditos de João. Por mais que o gestor tenha participação no resultado pela forma como conduz o trabalho, é parte do seu trabalho garantir que os membros da equipe sejam reconhecidos individualmente pelo seu trabalho.

Trabalhar sem reconhecimento e ver alguém levando crédito pelo que você fez é uma das receitas mais eficientes para matar a motivação do seu time.

Agir diferente do que exige

Por mais que cargos de liderança tragam uma liberdade maior para o gestor, o que é justificado pela hierarquia corporativa, pessoas respeitam e aprendem através do exemplo.

Quando uma exigência não condiz com o exemplo apresentado, seres humanos tendem a enxergar hipocrisia e desrespeito. Assim como alunos e sala de aula, um professor que não transmite coerência dificilmente conseguirá guiar uma turma.

E mesmo que possa agir diferente dos demais, um gestor deve equilibrar suas cobranças e sua posturas de acordo com o próprio comportamento.

Assim que o funcionário entende que um gestor fala mais do que faz, ele perdeu a cumplicidade do time.

Sempre pode ser melhor

Toda ideia de motivação existe quando enxergamos uma atividade como possível e alcançável, mesmo que com grande esforço envolvido no caminho. Motivação é um impulso de curto prazo, quando o objetivo se torna muito distante, desanimamos no meio do caminho.

É impossível se esforçar infinitamente sem alcançar algo intermediário pelo caminho. O exemplo mais comum é quando a equipe consegue algum resultado excelente, mas acaba ouvindo, numa tentativa de manter a motivação, o gestor bradar que poderia ser melhor, eu sei que vocês conseguem!”.

Existe o momento da cobrança, mas também precisamos do momento da conquista. Reduzir a importância dos feitos para tentar motivar o time, significa repetir que eles nunca são bons o bastante, o que na teoria pode parecer que funciona, mas a prática é extremamente prejudicial.

Uma hora o time para de se esforçar, ninguém aguenta muito tempo.

Manter o time motivado não é difícil, o problema são comportamentos que muitas vezes, sem que ninguém perceba, acabam matando aos poucos a motivação da equipe.

Para não esquecer dos principais elementos da motivação, memorize estes 3 pontos:

  • Ter metas de curto prazo
  • Reconhecer os resultados
  • Mostrar que protege seus colaboradores

É claro que existem muitos outros pontos, mas lembrar parte da motivação está em transformar metas grandes e distantes em pequenos objetivos de curto prazo, reconhecer o mérito e o resultado de cada um e garantir que existe autonomia para assumir riscos controlados sem punição desproporcional.

O assunto é bem profundo, mas garantindo que estes pontos estão cobertos sua equipe já estará muito bem encaminhada.