Cheguei de viagem bem cedo. Resolvi tomar um café na rua ainda com as malas. Precisava acordar que o dia ia ser longo. Entrei num estabelecimento conhecido aqui pelos excelentes produtos. Pedi meu café bem forte, um pouco de leite e o já tradicional pão na chapa com manteiga.

Dei a primeira mordida e ouvi uma tremenda confusão iniciar-se do outro lado do balcão. Demorei para entender, mas o papo era sobre uma funcionária jovem que tinha desrespeitado uma mais velha com grosserias.

Naquela altura, todos os clientes estavam observando a reclamação da senhora em relação a mais nova:

“- Se fosse minha filha eu já tinha te dado uns cascudos em você porque você é muito malcriada, menina”.

Uma terceira funcionária tentava apaziguar as discussões, mas sem muito sucesso.

A gerente aproximou-se das duas, tentou conter os ânimos e levou as duas para dentro da cozinha. A confusão parecia ter sido controlada, até que lá de fora ainda ouvia-se a gerente tentando resolver:

“- Vocês vão me complicar assim. Cheio de clientes lá fora. Imagina se eles reclamam para a matriz e vamos todos para a rua? Eu tenho um filho para criar, gente. Vocês precisam se controlar.”

Há essas alturas, todos os clientes se entreolharam com se todo mundo concordasse que não queria estar nessa situação.

A gerente continuou:

“- Vocês tão vendo como está difícil um emprego nessa São Paulo? Ninguém aqui está no luxo de se sentir melhor que a outra. Deveríamos aprender a conviver mais já que gente passa muito tempo do dia aqui. A gente precisa aprender a lidar com as diferenças umas das outras. Assim como vocês têm problemas, todas nós temos. Eu posso contar com vocês para fazermos disso um melhor lugar para trabalhar? Ninguém  está aqui porque quer, a gente tem mais em comum do que de diferente nesta loja. Vamos manter a paz. Isso não pode acontecer. Estamos combinadas?”

Uns quinze minutos depois, as duas funcionárias estavam conversando de maneira amigável sobre o que recebiam de pensão dos filhos.

O que me chama a atenção nesta história toda é justamente a capacidade da gestora de transformar um ambiente de diferenças em uma igualdade comum. Algumas lições pude aprender ali com a gerente.

Ela não tentou ser apenas agradável, mas mostrou as real consequência das coisas

Às vezes, para ganhar certa popularidade, o líder tem medo de se tornar um chato e tenta manter uma voz pacífica para evitar o conflito. Não podemos simplesmente usar do cargo para ser arrogante, mas ser líder requer eventualmente ser impopular.

É possível ser taxativo, educativo e instrutor sem utilizar do poder como argumento, mas sim procurar maneiras de como resolver aquela confusão trazendo uma consciência reflexiva sobre aquilo.

Ser um chefe calmo demais é igualmente ruim do que ser um mandão sem escrúpulos. Ser líder é ganhar a equipe para si, mas não ignorar determinada firmeza eventual.

Ela fez questão de mostrar que aquele conflito afetaria as outras pessoas da equipe

É claro que quem está exaltado raramente reflete sobre como suas decisões de violência acabam afetando outras pessoas. Normalmente, nessa situação é bastante comum da parte do gestor utilizar-se do poder, ameaças ou punições para cessar brigas.

Gestão de vendas

Apesar de terem suas funções como medida administrativa, antes de aplicar este tipo de atitude, é importante que haja um trabalho de tentar entender e demonstrar como descontroles e erros tem efeitos coletivos.

Trazer à tona estes efeitos danosos de uma atitude impensada pode ajudar a remediar novas situações constrangedoras. Quando algo sai errado, é problema de todo mundo.

Ela ensinou que nem sempre é bom deixar emoções livres

Todo mundo hoje idolatra a sua própria personalidade como se fôssemos programados para nunca refletir ou mudar de comportamento. O que a gerente fez foi deixar claro que deixar-se dominar sempre pelas emoções não é saudável em um ambiente profissional.

Não há nobreza no velho discurso de “ser você mesmo” como maneira de agredir outros, não há uma vida profissional sem políticas, sem que haja receios, sem que tenha que utilizar meias-palavras, sem cuidar da sua postura pessoal. Faz parte do jogo.

Se uma pessoa que não procura ter domínio próprio vai acabar com seus relacionamentos e com sua carreira. A maturidade envolve também aprender a dizer não para os seus instintos danosos. Não é bonito ser babaca usando a falsa autenticidade como desculpa.

Ela lembrou que ambas têm objetivos em comum

O ambiente de extrema competitividade que a grande maioria das empresas incentivam é realmente uma das maiores causadoras de conflito e de gestão de pessoas.

Uma das falas mais importantes desse diálogo que presenciei foi a tentativa dela de demonstrar que as duas tinham problemas parecidos e que mesmo não pensando totalmente igual, elas precisavam daquele emprego tanto quanto a outra para objetivos que pode até ser comuns.

Gerar essa dimensão de empatia pode ser a principal solução para diminuir as diferenças de times. A competição só é saudável se for amigável. Quando a coisa vira bastante bélica, aí, é hora de rever.

Se temos uma cultura de complementaridade, alcançamos resultados mais rápidos do que em ambientes com competições exacerbadas. É o mundo mudando, amigo.

Pediu uma resposta positiva de comprometimento com o ambiente de harmonia

Eu não acredito tanto em medidas punitivas. Melhor, acredito mais em expansão da consciência do que no castigo. Quando você faz alguém se comprometer com algo, fica muito mais fácil de cobrar depois.

A técnica dela – proposital ou não – de perguntar para ambas se poderia contar com elas para criar um ambiente mais agradável é uma assinatura virtual de um contrato de boa convivência que estavam fechando sem notar.

Obter uma resposta como essa é realmente uma boa maneira de controlar situações complicadas de relacionamentos.

Na hora do caos, é bom ter em mente sempre que, por mais que tudo pareça estar ruim, se não houver uma medida inteligente, tudo pode sair ainda mais do controle.

O ideal é remediar, mas se acontecer, é melhor já ter me mente o que fazer.