Um dos sentimentos da minha do adolescência que lembro com mais intensidade, surgiu o momento em que estava aprendendo a dirigir.

Eu estava prestes a terminar o ensino médio, começando a pensar em vestibular e faculdade, precisava ser um bom aluno e tirar boas notas. Tinha começado no meu primeiro emprego formal faziam alguns meses e a cobrança para tirar certificações e me capacitar era constante. Além de tudo isso, precisava aprender a dirigir e todo mundo dizia que eu precisava fazer isso muito bem.

Passei algumas semanas deste período questionando tamanha pressão, essa necessidade de focar em tudo o que faz para conseguir ser o sempre melhor.

Mas hoje, 15 anos depois, enxergo um mundo bem diferente, e tenho evidências sólidas de que o importante nunca foi ser o melhor, e isso é um grande alívio. 

O melhor é muito relativo

Eu gostava de tocar guitarra quando era mais novo. Tinha coleções de CD’s dos grandes guitarristas, aqueles que vinham na capa da Revista Guitar Player com o subtítulo “melhor guitarrista do mundo“.

Esses artistas eram incríveis, todos com um conhecimento musical e uma velocidade de impressionar. Por muito tempo pensei que para ser um guitarrista famoso eu precisava ser um deles.

Mas o mundo não funciona bem assim.

A categoria que eles eram considerados os melhores não importava para a maioria das pessoas.

Meus amigos preferiam ouvir bandas com guitarras muito mais simples e arranjos que eu considerava pobres. Mas lá estavam essas bandas vendendo bem, no topo das paradas e – aparentemente – muito felizes com seus resultados.

O mesmo acontece em vários aspectos da vida. As mulheres não namoram apenas com o cara mais bonito, ou o mais inteligente, ou o mais legal. As possibilidades vão muito além da simples classificação de melhor ou pior em uma única característica específica.

Existe uma subjetividade no gosto que permite cada pessoa admirar algo diferente, dando margem para que quase todo mundo encontre seu espaço.

Existe muitos não-melhores por aí

Um dos exemplos que gosto de citar é a banda Nirvana.

Uma banda normalmente criticada e conhecida por usar combinações simples de acordes e ter músicas muito fáceis, mas que durante seu período de atividade foi capaz de mover multidões, chegando a ser uma das bandas mais populares do mundo.

Nirvana não foi a única banda capaz de mover multidões sem serem considerados individualmente os melhores no que fazem, e o mesmo podemos ver em vários outros segmentos profissionais.

O que causa essa impressão errada de que só existe chance para o melhor, é enxergar o mundo como um simples torneio de curto prazo, um lugar onde “o melhor leva tudo“. 

Mas nem mesmo em esportes competitivos essa afirmação é verdadeira.

Considere a copa do mundo: Se pensar objetivamente, apenas um time recebe o título ao final. Mas esse título é apenas um aspecto de vários outros cenários.

As 32 seleções que disputam o torneio possuem variados níveis de desempenho, e jogadores com atuações em vários em países diferentes. Dessas centenas de jogadores, apenas um será premiado com o título de melhor jogador do mundo, todos os outros ficarão abaixo disso.

No entanto, independente desse título, todos representam uma peça importante para seus times, e todos os times precisam deles em sua individualidade. Eles fazem o que gostam, desempenham bem seu trabalho e recebem bons salários por isso.

É claro que se todos os times pudessem, contratariam o Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, mas dentro da possibilidade de cada um, todo jogador é igualmente importante.

Assim funciona também os outros pontos da nossa vida, existe espaço para as pessoas sem que elas precisem ser exatamente as melhores.

Mas o que é preciso para isso?

Pensando muito sobre o que faz as pessoas não preferirem exatamente os melhores, cheguei num ponto que considero fazer sentido.

O que Nirvana tem em comum com o zagueiro da seleção da Turquia, e que tem a ver com o vendedor de uma pequena fábrica de colchões no interior de Santa Catarina?

Normalmente a resposta está na autenticidade. 

Algumas pessoas realizam suas atividades de um jeito específico, o seu jeito. Muitas vezes não é o melhor possível, mas é extremamente bom e diferenciado, a ponto de ser o melhor não fazer diferença. Os resultados que acabam gerando são suficientemente bons, as vezes até melhores.

Olhe para livros como 50 Tons de Cinza. E. L. James está longe de ser a melhor escritora da nossa geração. Sua escrita, em termos de qualidade e técnica, não tem nada de extraordinário. Ainda assim, é um dos livros mais vendidos do mundo. James é a autora que mais faturou na história, e 50 Tons de Cinza é o livro mais vendido em seu pais, a Inglaterra, superando o icônico Harry Potter.

 

É claro que precisamos nos esforçar para nos desenvolvermos como pessoas e profissionais, mas esse mantra louco que nos faz acreditar que apenas o melhor sobrevive e que não existe lugar que não seja para o melhor, traz mais danos do que resultados positivos.

Quando nos vemos tão distante assim dos melhores, o normal é receber a informação  com uma grande dose de desânimo. Ignorando todos os outros cenários que o mundo pode oferecer.

No fim, o que importa é seguir se esforçando e se desenvolvendo, sabendo que se for feito do seu jeito e imprimindo suas características pessoais, as chances de encontrar um lugar que te acolha e reconheça suas habilidades individuais são bem maiores.