Recentemente uma grande mudança no Instagram protagonizou uma importante discussão, um debate que preocupa empresas e profissionais que utilizam a rede como ferramenta de trabalho.

Ao remover a contagem de curtidas nos posts, o Instagram criou um problema para muitas empresas. Como sinalizador de sucesso, as curtidas funcionam muito bem para engajar mais o público e se apresentar com métricas de sucesso.

Uma campanha que apresenta 70 mil curtidas, certamente traz mais impacto como relevância pública que uma campanha com apenas 50 curtidas. Apesar dos números ainda serem visíveis para o criador do conteúdo, a contagem de curtidas também servia como uma demonstração de sucesso para o público.

Não é apenas o reflexo dos likes em si, mas mostrar para o público esses likes como reforço de autoridade.

Mesmo sabendo que os impactos serão sentidos apenas no longo prazo, a discussão que envolve a iniciativa precisa assumir outra dimensão. Como devemos lidar com plataformas que possuem um enorme poder sobre nossos negócios?

Pode não ser o caso ainda, mas uma simples mudança como essa executada pelo Instagram pode, com facilidade, arruinar um negócio completamente. Os criadores que utilizam o YouTube, por exemplo, sofrem há alguns anos com semelhantes medidas arbitrarias de serviço.

Mudanças no algorítimo no YouTube trazem problemas gravíssimos aos produtores de conteúdo. Ao mudar regras do algoritmo com frequência, a plataforma pode prejudicar os acessos e o faturamento de quem investe alto na produção dos vídeos.

Uma simples resolução de remover a audiência de vídeos com um link específico na descrição, por exemplo, pode reduzir até 80% dos acessos de um conteúdo.

Quando pensamos superficialmente que o produtor de conteúdo é uma pessoa se divertindo em casa, o impacto pode parecer pouco, mas o universo do conteúdo está longe de ser assim.

Um canal grande do YouTube, hoje em dia, é formado por uma boa equipe de captação e edição, possui um escritório e funcionários para diversas funções. Em um negócio que sobrevive desse conteúdo, uma suspensão em 80% dos acessos pode causar uma redução perigosa no faturamento.

Quando utilizamos redes como LinkedIn, Facebook ou Instagram para apoiar nossos negócios, nós também estamos suscetíveis a este problema. Uma mudança simples na forma como entregam o conteúdo para o usuário pode afetar imediatamente milhares de negócios.

Num passado não muito distante, Facebook fez algo muito parecido. Reduziu o alcance das postagens das páginas à percentuais irrisórios, forçando o uso de impulsionamento pago para poderem alcançar um público maior. E mesmo assim, o alcance dos posts impulsionados também foram reduzidos, exigindo um valor cada vez maior.

E é claro que sendo uma empresa privada, é compreensível que modifiquem sua ferramenta. No entanto, uma empresa que provavelmente investiu até centenas de milhares de reais em ações para alcançar uma boa concentração de seguidores em suas páginas, acaba tendo seu investimento prejudicado, uma vez que não consegue mais falar diretamente com as pessoas que já investiu muito dinheiro para atrair.

Toda essa movimentação das redes sociais para dificultar o engajamento com usuários que a empresa já investiu dinheiro para atrair levanta um grande desconforto.

Por que investir em marketing para atrair seguidores aos veículos que em breve não teremos mais alcance?

Por que investir num ambiente instável onde, no futuro, todo investimento pode deixar de valer a pena?

Por outro lado, as plataformas sociais seguem sendo uma boa oportunidade para vender e, que no curto prazo, também não podemos ignorá-las.

Talvez a melhor saída para este impasse seja trabalhar as redes sociais e seguir produzindo conteúdo, mas assumindo o movimento de atrair os seguidores, fãs e clientes para canais próprios da empresa.

Uma das respostas que já vemos acontecer, é o retorno das Newsletters de conteúdo exclusivo. Construindo um novo canal onde quem produz conteúdo tem controle total do que é entregue e como essa entrega é feita.

Na mesma direção, é necessário voltar a repensar o blog empresarial como forma de centralização de conteúdo, trabalhando para migrar a base de seguidores, aos poucos, para canais onde não exista o risco de ser afetado por uma decisão de terceiros.

Assim como era antes do boom das redes sociais, o que parece uma saída é voltar a trabalhar na distribuição do próprio conteúdo, evitando tornar-se refém de outras empresas.